Diretamente de Curitiba, Lia Kapp é cantora e compositora caracterizada por apresentar um universo dark e obscuro em seus trabalhos.
Hoje ela representa o Mulheres na Música, onde vai contar um pouco sobre a sua jornada musical e o mais novo projeto criado na quarentena.
Confira aqui:
Just Play! - Como foi o seu primeiro contato com a música e em que momento você decidiu seguir a carreira artística?
Lia - Eu sempre gostei de ouvir música, e, quando eu era mais nova, eu queria aprender a tocar guitarra. Após alguns meses de aulas de violão com uns 13 anos, vi que eu era muito ruim e abandonei. Com 14 anos, comecei a cantar inspirada pelo seriado Glee, e, com 15 anos, comecei a fazer aulas de piano/teclado inspirada por Evanescence. Aos 16/17 eu estava no terceirão estudando para o vestibular, e na época optei por fazer psicologia, mas foi naquele ano que eu percebi que queria ser artista. Eu já tinha algumas músicas que havia escrito um ano antes, e também ideias pra um EP, o Conflito no caso, mas era difícil tomar a decisão de ir fazer faculdade de música, ainda mais num país que a arte é tão desvalorizada. Após passar um ano na psicologia, percebi que não dava mais pra adiar e fui estudar para o vestibular de música, e passei.
Mas acho que a minha carreira e o que eu entendo por carreira vai muito além do que eu estudo na faculdade. A grande maioria das coisas que eu fiz não teve a ver com a faculdade em si, como os videoclipes, por exemplo. Digo isso porque acho que ser artista é muito mais do que estudar numa universidade.
Just Play! - O seu som é caracterizado como uma atmosfera dark. Você sempre gostou desse estilo musical? Como surgiu o seu interesse por esse segmento?
Lia - Na verdade não haha. Até meus 14 anos eu ouvia muito pop, inclusive o pessoal do meu colégio me relacionava muito com a Kesha e eu ganhei glitter de presente e tudo mais. E aí as coisas mudaram: eu comecei a me sentir mais triste e reencontrei o Evanescence, e ali foi o meu refúgio por vários anos. Eu literalmente escutava SÓ eles. Minha essência dark veio daí, mas posteriormente eu conheci outras coisas que me conquistaram muito, como a Chelsea Wolfe. Atualmente eu mal escuto coisas assim e me reencontrei novamente no pop que eu escutava antes de ter depressão.
Just Play! - Em 2015 você lançou o primeiro EP "Conflito" e, em 2018, lançou o álbum "Metamorphösis". Quais são as maiores diferenças entre esses dois trabalhos?
Lia - Quando eu escrevi o Conflito, aos 16/17 anos, eu não sabia nada de produção musical. Eu só precisava gravar o que eu tinha criado e colocar no mundo. Na época, fomos eu e meu pai numa loja de instrumentos e equipamentos, e compramos uma interface de áudio bem simples e um microfone que eu uso até hoje nos shows. Junto com a interface, veio um programa de edição de áudio e eu comecei a gravar usando ele, mas eu não sabia mexer direito e meu computador era horrível. Após ter postado algumas coisas no soundcloud, fiquei amiga do Gustavo Mazuroski através de amigos em comum, e em 2015 começamos a trabalhar juntos com música e naquele momento eu conheci o Ableton. No final desse ano, nós dois começamos a gravar o Metamorphösis, já com equipamentos melhores e um microfone bom. Gustavo começou a aprender a mixar e masterizar e fomos trabalhando juntos no álbum. Essa é a principal diferença em relação à qualidade de áudio. Enquanto o EP é totalmente improvisado e feito por alguém que não sabia nada, no álbum já sabíamos como lidar com o programa e como fazer um trabalho melhor, mas claro, sempre há o que aprender.
Em relação à parte musical, o Conflito é marcado por voz e piano. No Metamorphösis, eu já quis adicionar um pouco de agressividade com guitarra e bateria, e experimentei com sintetizadores, que gerou um som bem mais etéreo que o meu primeiro trabalho. Eu confesso que não consigo ouvir o Conflito, por causa do áudio e por não combinar mais comigo. Eu ainda era criança quando escrevi.
Just Play! - Junto com o lançamento do álbum "Metamorphösis", surgiu o projeto audiovisual “A Metamorphösis’ Tale”, com o objetivo de representar artisticamente o período em que você compôs as músicas desse projeto. Como foi a recepção das pessoas que acompanham o seu trabalho?
Lia - Foi muito positiva, na verdade! Eu tenho muito orgulho dele, porque eu amo de verdade o resultado e tenho muito carinho pelo pessoal que trabalhou comigo na equipe. Em cada clipe foi por volta de 20 pessoas, então conheci muita gente talentosa e foi muito bom. Ainda não está completo, faltou filmar o capítulo 4 por culpa da pandemia, mas foi como realizar um sonho de verdade, e acho que os vídeos passam o quanto a gente se esforçou.
Além das pessoas que já me acompanhavam, o Tale também conquistou muita gente nova! Fico muito feliz, de verdade.
Just Play! - Quais são as suas maiores inspirações e influências no meio da música?
Lia - Acho que a minha maior inspiração é a Lady Gaga. Eu amo a voz dela e ela tem uma presença tão poderosa nos palcos, e isso é algo que eu queria ter.
Mas eu gosto de muita coisa mesmo, como Britney Spears, Ariana Grande, Radiohead, Rina Sawayama, Billie Eilish, Nine Inch Nails, Tool... É bem variado. Queria ser um pouquinho de cada hahaha.
Just Play! - Qual é o seu principal objetivo como artista em relação às pessoas que te acompanham? Trazer reflexão através das suas músicas? Emponderamento?
Lia - Acho que eu sou meio egoísta nesse sentido, porque meu objetivo principal em relação à arte é me expressar hahaha. Mas em relação a outras pessoas, acho que é criar um espaço pra que elas se identifiquem comigo. Eu falo muito sobre a depressão que eu tive, sobre minhas questões internas, sobre o que eu passei até me encontrar como pessoa, e muitas pessoas já entraram em contato comigo pra dizer que alguma música minha combina com a vida delas. Hoje eu falo nas minhas redes sociais sobre superação, e acho que é isso, eu quero dizer que é possível você ficar bem e criar coisas a partir da sua dor.
Só que eu sou muito mais do que a pessoa que teve depressão, sabe? Agora eu estou tentando levar minha arte para outro caminho, e mostrar que eu sou uma mulher com desejos, vontades, raiva, ambições, então quem sabe seja sobre empoderamento daqui pra frente?
Just Play! - Como você descreve a Lia artista?
Lia - Que difícil...
Auto crítica, perfeccionista, exigente... Vale? Hahaha.
Acho que o que me descreve é que eu sou ambiciosa demais. E que eu vou fazer de tudo pra chegar onde eu quero chegar. Eu não sou mais a pessoa extremamente sensível e melancólica que eu era. Ok, na minha vida pessoal eu sou bem sensível, mas, como eu disse, eu quero ir para outro caminho agora e explorar esse meu novo lado. Eu tenho muitas faces... E estou sempre me transformando.
Conheça o trabalho da Lia Kapp:
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