Os anos 60 foram marcados pelo clássico “Sexo, drogas e Rock’n’Roll”. Artistas com esse estilo apareceram na cena musical como Jimi Hendrix, The Who, The Beatles, Bob Dylan, entre outros. Já nos anos 70, o psicodelismo tomou conta e vários outros estilos musicais foram ganhando mais destaque, como punk rock, new wave, heavy metal, transformando a década mais eclética.
Durante essa época, as mulheres enfrentavam uma desigualdade mascarada de liberdade. Não se ouvia falar de banda de mulheres. Até que no meio disso tudo surgiu no fim de 1975 The Runaways. O grupo era formado apenas por garotas que escreviam letras sobre sexo, drogas, desejo e raiva feminina.
Tudo começou quando a baterista Sandy West e a guitarrista Joan Jett se apresentaram ao produtor musical Kim Fowley, que deu o número do telefone de Jett para West. As duas se encontraram mais tarde na casa da baterista. Assim, a banda foi formada com Micki Steele no baixo, que mais tarde seria substituída por Jackie Fox, Joan Jett e Lita Ford nas guitarras, Sandy West na bateria e Cherrie Currie no vocal. A partir daí elas começaram tocando em circuitos de festas e clubes ao redor de Los Angeles.
Em 1976, a banda conseguiu um contrato com a Mercury Records e lançaram o álbum de estreia chamado The Runaways. Elas viajaram pelos Estados Unidos e tocaram em vários shows esgotados.
O segundo disco, Queens Of Noise, foi lançado em 1977. A partir daí, o grupo começou a fazer turnê mundial. Apesar de diversas trocas de integrantes e shows pelo mundo, elas tiveram a oportunidade de tocar com Van Halen e Ramones e de fazerem alianças também com outras bandas de punk rock, como The Dead Boys, The Damned, Generation X e Sex Pistols.
Neste mesmo ano elas tocaram no Japão, tinham o próprio especial de TV, fizeram inúmeras aparições em programas, além de lançarem o álbum Live In Japan. Essa foi a época de ouro da banda, que veio junto com os hits "I Love Playing With Fire", "Dead and Justice", "Queens Of Noise" e "California Paradise". Definitivamente o som cru e agressivo deixou muitas bandas de homens para trás.
A vocalista Cherrie Currie deixou a banda no outono de 1977 após uma discussão com a guitarrista Lita Ford e assim, Joan Jett assumiu os vocais. No mesmo ano, por conta de desentendimentos sobre dinheiro e administração da banda, o produtor Kim Fowley foi substituído por Toby, além delas saírem da gravadora Mercury/Polygram. Também houveram desacordos entre as integrantes pelo estilo musical a ser seguido. Jett queria que a banda mudasse de punk rock para glam rock. Lita Ford e Sandy West queriam continuar tocando hard rock e heavy metal. Nenhuma aceitava a sugestão da outra.
A banda fez o último show na véspera do ano novo de 1978, no Cow Palace, perto de São Francisco e anunciaram oficialmente a sua separação em abril de 1979.
The Runaways tinham grandes características de serem ousadas no palco, selvagens nas músicas transformando-as numa verdadeira banda de Rock’n’Roll. Apesar de existir outras representantes mulheres na música naquela época, como Janis Joplin na década de 60, uma banda só de meninas era subestimada. A imprensa americana não aceitava garotas com atitudes, chegando a chamá-las de “rebeldes sem causa”.
A própria Joan Jett durante uma entrevista para a Rolling Stone falou sobre ao relembrar a década de 70, “a sociedade não estava preparada para uma banda só de mulheres”, disse. “A gente chocava as pessoas sem fazer nada”, completou a cantora. Já a guitarrista Lita Ford durante uma outra entrevista falou sobre o preconceito no meio musical. “Ser do sexo feminino nessa área faz com que muitos não te levem a sério. Mas estou nessa desde 1975. Alguém precisava passar por essa prova”, afirmou Ford.
Se compararmos o grupo com as bandas masculinas da época, elas não são tão valorizadas quanto deveriam por esse acontecimento super importante que fizeram na indústria musical. Até hoje as bandas de mulheres são minoria pelo mundo e tem menos visibilidade que os grupos masculinos.
O fato é que apesar de ter sido uma banda de curta duração, The Runaways fez história, batendo de frente num mundo onde os homens eram os rockstars. Elas estavam ali pelo Rock’n’Roll, só queriam tocar o que amavam e cantar sobre o que acreditavam. Com a coragem e agressividade de Cherie e Jett, elas puderam mostrar ao mundo que as mulheres sabem fazer rock independente do preconceito e da dominação masculina. Esse é o legado da banda setentista e é isso que serve de inspiração para as gerações que vieram depois delas e as que ainda estão por vir.
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